Hora do almoço; crianças comem uma gostosa e cheirosa galinha cozida com batatas, arroz e feijão em seus pratos azuis. De longe as professoras dão pequenas ordens orientando como as crianças devem proceder à mesa; não devem falar de boca cheia, não devem deixar cair comida, não devem acotovelar os “amiguinhos”, é preciso comer “tudinho”. As professoras comem também, no prato de vidro próprio para os adultos. Comem distantes das crianças, não se misturam aquela massa inquieta e “sem educação”, “sem hábitos”, “sem maneiras decentes de comer e falar”.
Algumas professoras, poucas professoras, sentam-se juntas às crianças incentivando–as para que comam, explicam a importância dos alimentos, comem junto à massa inquieta, conversando também aumentam o coro das crianças, e sentem–se como parte do grupo mesmo reconhecendo que são tão diferentes. Os pratos de vidro avizinham-se aos de plásticos criando um desenho que anteriormente não tinha sido feito.
E Jéssica, uma daquelas crianças espevitadas e “sem educação” pergunta à professora que estava sentada a seu lado, estranhando aquele novo diagrama, aquela mistura de adultos e crianças :
- Tia, você também é uma criança?
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