domingo, 31 de agosto de 2008

PASSARINHOS..

UMA NOITE, UMA CONVERSA, UM GESTO DE AFETO, SÃO SUFICIENTES PARA FAZER REVOAR PASSARINHOS ADORMECIDOS, RECOLHIDOS NO PEITO? E TODOS SE DEBATEREM TONTOS E SAIREM COMO POESIA PELA GARGANTA AINDA SECA PELA ASPEREZA DOS ÚLTIMOS DIAS? OS PASSARINHOS COMEÇAM A FAZER CÓCEGAS NO MEU PESCOÇO, AMBICIONAM VIRAR OUTRA COISA, E SAIR POR AÍ DESPERTANDO CINEMA NA PAISAGEM INERTE, MORTA. O QUE FAÇO COM ESSES SERES BARULHENTOS, ESSES SERES SEM MEMÓRIA, ÁVIDOS PELO VÔO? O QUE FAÇO COM ESSES SERES FEITOS DE ESPERANÇA, COMPROMETIDOS COM A POTÊNCIA? QUERO ANESTESIÁ-LOS, NÃO CONSIGO. MAS TEMO ABRIR A GAIOLA, E PELOS INCONVENIENTES PÁSSAROS SER DE NOVO, ARRASTADA.

sábado, 30 de agosto de 2008

Rodopios

Ela espera durante o dia morno, a hora de dormir. Espera pelo sonho colorido de inocência e despudor. O sono chega devagar, invadindo seus errantes pensamentos. Não demora muito, ela está metida num vestido de luz, incandescente. O vestido transparente tem muitas pontas, todas elas puxadas por fadas libélulas de asas cintilantes. Cada asa possui um nome, um nome de homem bordado em fios de puro ouro. A moça gira impulsionada pelo bater frenético das asas. Ela rodopia tonta, feito criança, mas se diverte e ri, evitando o tombo. De repente ela consegue ler um dos nomes impressos nas asas, e repete o nome muitas vezes até torná-lo música. Quase mágica. Hinotizada pela música, ela segue para o bosque onírico. Inebriada, vê o nome virar corpo e com ela se deitar entre arbustos de seda. Dançam, dançam, dançam e nada mais. Mas como num susto ela acorda, saudosa de algo que esqueceu: o nome, o homem, a música, a dança. Assim, passa todos os dias desejando o sonho, desejando dormir para eternizar o encontro dança ou apenas de novo girar.

domingo, 24 de agosto de 2008

Asas


Asas molhadas de sereno doce,
cambiantes,
translúcidas.
Asas tomadas de vento,
inimigas do tempo,
desconfiadas do voô.
Asas tontas de devaneios pueris,
movidas por mistérios,
quase fadas, quase estrelas.
Por um triz, quase vidro.
Mas ainda asas.
Delicadezas para rodopiar utopias
para supor alegria
na dureza do meu pensamento.

sábado, 23 de agosto de 2008

Descanso
















Frágil

Mexe com cuidado para não despertar fadinhas escondidas entre os pêlos da virilha.
Mexe com precisão para não penetrar rijo nas áreas inóspitas do meu coração.
Mexe com desvelo para não fazer do seu desprendimento, sedução de borboleta.
Mexe com proteção para não encharcar de poesia meus lençóis insones.
Mexe sem delicadeza para não preencher meus dias com suspiros desmedidos.
Mexe jocoso para eu não desconfiar que nossas escolhas não rimam.
Mexe distraído para não despentear meu calendário.
Mexe sem perder o tino, para não gozar vermelho em dias verdes.
Mexe com calma para não atiçar zonas de esperanças erógenas.
Mexe indecente, tatuando na minha retina seus olhos promessa.
Mexe embaraçando pernas, para fazer nós.
Ai, mexe,mexe de qualquer jeito. Mexe gostoso, intenso, sempre.

domingo, 17 de agosto de 2008

Noturna

Desconfio que meu tempo se esvai entre esquecidas cenas de um passado que me trai , atrai.
Desconfio que meu tempo se constrói com a rapidez de avenidas, risos tolos e faróis.
Desconfio que meu tempo se reveste de silêncios sombras e calmarias tapetes.
Desconfio que meu tempo descansa com o tempo de Deus, muitas vezes no escuro do quarto, estamos sós, ele e eu.
Desconfio que meu tempo caduco teima em mostrar o que eu ainda não vi.
Meu tempo é correr,
Quero ficar aqui, ele não deixa.
Ele tem mania de partir e levar me com ele.
Ele tem obsessão por fluir.
Ele ambiciona despedidas, secando com sopro quente minhas lágrimas de saudade.
Desconfio que já sou meu tempo, que meu corpo é seu cavalo.
Corro, corro, corro sem rédeas, tonta, selvagem, sem saber qual o próximo precipício.

domingo, 3 de agosto de 2008

experimentações noturnas



Entre redes, entregue ao tempo.

Entre olhares, entregue ao possível.

Entre atos, entregue a performance.
Entre pernas, febre.

Entre meandros, entregue ao jogo.

Entre muitos, dispersão.
Entre meios, rompantes de delicadeza desastrada.
Entre instantes, lucidez desgovernada.
Entre sextas e sabados, apostas solitárias.
Entre suspiros abafados, esperanças crianças.
Entre dedos, vazios.
Entre lençóis, nudez de flor cansada.
Entre cabelos, suores de cio despenteados.
Entre nós, não ditos.
Entre um dia e outro, afastamento.
Entretanto, enredada na teia,

Entre tontos dias, ainda possuo disposicão tecelã.
Entrega.

Mágoa

Vínculo estéril.
Ausência de sol no peito.
Estilhaços de devaneios
que eram chamados de sonhos,
e não fazem mais mosaico.
Rompante ruptura com o sereno.
Lastimável letargia.
Engodos? Tantos tolos.
Tonto maldizer.
Zabumba emudecida
que toca enganação.
Gosto permanente de segunda feira
entre os dentes amarelos de inventar alegria.
Olho inerte,
piscando sólida solidão.
Fragéis frases rimando vingança.
Lapsos de memória contente.
Pensamentos martelinhos
espantando borboletas.


Revisitando meu diário escrito nos anos 90.