quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O amor escondido está guardado numa caixa de sonhos,
onde se lê frágil em letras miudinhas.
O amor escondido é um sorriso de canto
pra aqueles que imaginam a moça, imersa no tédio.
O amor escondido, está guardado no assobio indecente do rapaz,
enquanto ele arruma gavetas.
O amor escondido é um beijo da lua,
adentrando o quarto,
só as sombras são testemunhas.
O amor escondido é pueril brincadeira,
empresta ao rosto cansado,
uma saudade brejeira.
O amor escondido é senha, pedaço nosso
que ninguém adivinha.
O amor escondido é o avesso da exposição,
é mergulhar fundo no silêncio do coração.
O amor escondido se revela triste como qualquer outro.
E se abastece de intimidade incomparável.
O amor escondido cava imensas olheiras no dia da gente.
Ele cansa, faz chorar e perder a inocência.
O amor escondido é tecido de poesia infame, 
torpes mensagens, sussurros e febre.
O amor escondido é peralta, é bandido
é menor, é mais, é meu, é seu, é nosso e só.
letras insones

domingo, 16 de setembro de 2012

Rio Bonito, meu amor

Quero pisar nas suas ruas calçadas por pedras tortas.
Quero pular degrau por degrau as escadarias da matriz.
E ouvir os sinos que tocam meu coração.
Pervertida por suas curvas,
Serra esperança,
Sou de novo verde, sou sua aprendiz.
Suas estrelas são lanterninhas acendendo meus sonhos.
Sua brisa amansa meu cansaço.
Fugindo do que reparte o tempo,
Quero minha cidade natal,
Nascedouro do que em mim é força vital.
Quero namorar suas varandas,
Ouvir suas histórias despreocupadas da verdade.
Quero suas geleias, compotas, tortas.
Um gosto do que é raiz brota ao passar por ti.
Casa dos primeiros amores,
Praça onde a inocência beijou a ousadia.
Lugar pra onde vou quando me falta ar e poesia.
Preciso ser mais do que sou
e isso me revela.
A poesia é uma zona que me aproxima do que eu deveria ser.
É aonde me torno maior do que sou na gaiola dos meus pensamentos.
Me liberto num só golpe, empurrando as portas 

com as minhas asas cortadas,
Regeneradas pelo por vir.
Voo livre, tonta, indecente, desajustada, infantil.
Com ela me excedo, com ela me basto, com ela eu me arrebento.
Brinco, brinco feito criança experimentando barro e água.
Ousando ser mais massa plástica do que cimento.
Meus versos são meus castelos sem forma,
minha casa sem endereço,
Sou eu cavalo, sem açoite.
São meus cabelos sem pentes,
Meus desconfortáveis sonhos sem travesseiros de penas.
Sou eu sem ser eu mesma.
letras insones

terça-feira, 31 de julho de 2012

Amores, eu tentei.
Tentei, mas não foi dessa vez.
Coloco de novo meu salto alto
E de banda, o batom.
Só queria saber quando começa o fim.
Ai, sobra vaga nesse tonto coração.
Ai de mim.
Mas agora só entra se souber a senha.
Ela terá a leveza de um biscoitinho de nata,
Mas o barulho de uma revoada.
Ela terá a eternidade de uma valsa,
E o instante do vôo de uma borboleta.
Esse código, estampado na retina,
É coisa de menina que se permite mar.
Ah, mar!
É amor cozido na panela de barro,
sem pressa, divagação.
É convite, não é convocação.
Nada de poeta punhetando pauta de reunião.
Nada de burocratizar, o que se quer balão.
É tempo de dormir na rede, é preliminar, é fruição.
É urgente, um amor que não aceite regra,
e sim combinação.
letras insones

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ver você é como encontrar um caracol no jardim,
É ter borboletas ensaiando verão na janela,
Joaninhas generosas na lapela,Um ninho novo no coração.
Ver você é deixar tudo que é morno, quente.Tudo que é quieto, assanhado.
É como tomar sorvete de fruta,que ainda não se compra no supermercado.
Ver você é encontrar um poema perdido.
Avistar meu oásis, minha terra prometida, meu paraíso.
Ver você, é passear de balão.Mergulhar nua sem proteção.
É retomar o uso de lamparinas,para acordar grilos, fadas e estrelas.
Ver você é como escrever o mais feliz dos poemas.
Sabor de pegar fruta no pé, sem medo e sem ciência.
Ver você é um espetáculo.
Eu, balairina na ponta do pé,
 sua partner para o próximo passo.

domingo, 3 de junho de 2012


A outra
Fui acostumada a caminhar distraída,Por despenhadeiros.Comungava da mesma sorte que todos os bêbados.Me lambuzava de vida feito criança.Sem freio, sem arreio, sem limite.Era só perdão e esperança.Apostava que amor era igual à romance.Que o beijo era uma aliança.Essa menina ainda resta, na despensa do meu coração.Hoje,Uma amiga disse que sempre trago na moldura um sorriso.Mas em noites vazias, o teto da minha solidão,Carrega de breu o meu quarto.Nele ecoam frases opacas, despossuídas de estrelas.Sorte ter sempre comigo um papel parto.Para gerar outro destino, que não seja fel.Muitas vezes a minha insônia,É movida por um sentimento nada travesseiro.Outras vezes, por um desejo passarinho.Hoje, sinto frio, depois do calor.Sinto febre que dispensa cobertor.Sinto dores intocáveis.Diante delas, faço caretas.Sopro a ferida com o que resta de delicadeza.Sou palhaça, troçando de mim mesma.Mas aprendi a resistir ao que me faz ser menos,Ao que não pode rimar com zelo.Quem for ficar, é pra ser par, é pra ser paz, é pra ser meu. — letras insones em Niterói, 2012.

segunda-feira, 7 de maio de 2012



Minhas saias asas,
Me levam até você.
Sinto cheiro de corpo,
Se aproximar do meu pedaço.
É quase um vento que sopra,
É quase experimentar um barato.
Sua mão descabela meu cansaço.
Incendeia meu vocabulário.
Nele, tudo que for indecente,
Tem seu lugar.
Nada escandaliza,
Tudo compõe.
Ouso flor vermelha no decote,
Laçarotes e exageros.
Tudo casado com o batom,
Despretensiosamente.
Esse vento bom,
Bate a porta,
Para tudo que for ontem.
Agora,
suspiros interrompem meu cinema.
Nosso banho, quase cena.
Só esse olhar de fera me guia.
Deixa-me torta,
Tonta e destemida.
Suspeito que visitas
Cabem no meu vestidinho rosa chá.
Então, as dores são esquecidas,
Como um bêbado ao desprezar o corte.
Danço valsa com os pés cortados.
E não dói.
Minha roupa foi tirada,
E não sinto frio.
Minha pele foi trocada,
Sinto um arrepio.
Sou bicho novo,
quase outro e sem freio.

LETRAS INSONES


Autorretrato

Sou uma página amarela,
rasbiscada com versinhos de criança.
Um tantão de asa e um pouquinho de âncora.
Entre a agenda de compromissos,
passarinhos na janela.
Tenho pés leves e sonhadoras ancas.
Sou uma noite de insônia,
Esperando o dia.
Sou destemperada água de beber com sede
e alegria.
Vivo ambicionando borboletas na varanda,
Mas do que comprar sapato novo.
Sou uma urtiga que atravessa o asfalto,
ou uma leve brisa que não deixa rastro.
Um prato de cheio de futuro,
Para comer com as mãos,
Sem pressa,
Sem etiqueta.
Sou um pão velho adormecido,
Que sempre acorda rabanada.
Gosto de escola, mas não de caderneta.
Sou um monte de amigas,
Um monte de amores,
Um monte de mães e
Filhas, todos dançando nuas na minha ilha.
Sou aprendiz de ser mãe da Maria,
Incompleta, debutante todo dia.
E por isso, sou mais,
Cada dia melhor, cada dia mais nós.
Minhas saias asas,
Me levam até você.
Sinto cheiro de corpo,
Se aproximar do meu pedaço. 
É quase um vento que sopra,
É quase experimentar um barato.
Sua mão descabela meu cansaço.
Incendeia meu vocabulário.
Nele, tudo que for indecente,
Tem seu lugar.
Nada escandaliza,
Tudo compõe.
Ouso flor vermelha no decote,
Laçarotes e exageros.
Tudo casado com o batom,
Despretensiosamente.
Esse vento bom, 
Bate a porta,
Para tudo que for ontem.
Agora,
suspiros interrompem meu cinema.
Nosso banho, quase cena.
Só esse olhar de fera me guia.
Deixa-me torta,
Tonta e destemida.
Suspeito que visitas
Cabem no meu vestidinho rosa chá.
Então, as dores são esquecidas,
Como um bêbado ao desprezar o corte.
Danço valsa com os pés cortados.
E não dói.
Minha roupa foi tirada,
E não sinto frio.
Minha pele foi trocada,
Sinto um arrepio.
Sou bicho novo,
quase outro e sem freio.

LETRAS INSONES

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Meu poema
se escreve a dois ou mais,
não é tarefa solitária,
é povoada e demais.

Meu poema
carrega outros tantos,
é um jantar intimo,
com amigos estranhos.

Meu poema,
não é coisa pura,
é fonte contaminada,
de sol, chuva e alguma trovoada.

Meu poema
por mais singelo que pareça,
é engodo, monstro esperando leve,
pelo almoço.

Meu poema,
é resto e tem pouco de rosto,
hoje, espero que ele não insinue
a presença de velhos outonos.

letras insones