terça-feira, 6 de maio de 2014

Rascunho

Rascunho

Eu não sei quantos poemas não terminei,
Desde que te (des)encontrei.
Eu não sei.
Eu não sei que força amansou a caneta,
Que obediente, nem roça o papel.
Eu não sei se são essas lembranças tão vivas escorrendo pelos dedos tesos,
rompendo tudo que pode ser dito de nós.
Eu não sei se são essas lembranças ainda frescas,
Que ao molharem os dedos, não podem discorrer.
Será medo de morrer?
Será medo de sepultar nosso delírio num último suspiro.
Eu não sei.
Eu não sei onde você está. Se tomou café ou se dorme, ou se sonha.
Não sei se você caminha olhando o horizonte.
Eu não sei se ainda ouve fado ou Paulinho da Viola à Marisa Monte.
Ou se prefere esticar suas pernas brancas de escritório na academia.
Eu sempre achei que você precisasse de sol.
Eu não sei nada sobre o homem de aplicativos.
Só sei que um dia ele perdeu o juízo.
Será que ele ainda divaga olhando peixinhos no aquário?
Será que ainda me declama um poema no ouvido?
Será que ainda posso te chamar amigo?
Será que pode perder  tempo comigo?
Só sei que perdi a inspiração por hora.
Só sei que meu poema é bobo, é sério, sem mistério.
Minha caneta está cansada, desconfiada e sozinha,
Dura e inerte sobre a nossa cama-escrivaninha.

Letras insones

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Talvez
Talvez, eu tenha que segurar a onda para evitar a crista.
Talvez, eu tenha que modular nossa frequência para não quebrar vidraças.
Talvez, eu tenha que arrastar correntes para não me atar ao seu abraço.
Talvez ,eu tenha que ser mais prudente para diminuir meu cansaço.
Talvez, eu tenha que dormir mais cedo e beber menos.
Talvez...
Talvez, eu tenha que assistir aos filmes da tarde, para ser cor de rosa.
Talvez, um banho frio.
Talvez, cidreira.
Talvez, mosca morta.
Talvez, o que realmente importa.
Talvez, meio termo, meio gente, meio bolha.
Talvez...
Talvez, eu tenha que enquadrar minhas borboletinhas tontas e assanhadinhas.
Talvez, eu tenha que cancelar nossa festinha.
Talvez, eu tenha que usar guarda chuva.
Talvez, eu tenha que por luvas para tocar no assunto.
Talvez, eu tenha que me concentrar mais em amarrar meus sapatos, do que pular pocinhas.
Mas eis que me encontro aqui, ardida, mordida, querendo retrucar. Cheia de malícia, querendo de provar.
Te provar, sim, que sou assumidamente louca, boba e má.
Que me perco escrevendo poesia para te tocar.

domingo, 29 de setembro de 2013

Tenho a alma barulhenta, 
Feito festa de passarinho quando amanhece o dia. 
Muitas asas pra poucos voos.
Mas que teimosas ensaiam partidas.
Ainda me espanta o que é morno.
Ainda me cansa o que não for simples.
Tenho medo de querer dormir quando o sol grita.
Não quero o sonho morto pelo anti depressivo.
Quero cores na retina, pulsações e tonturas.
Quero ainda me impressionar,
Ter a pele carimbada de arrepios e invasões.
Quero sono interrompido,
pelos risos da minha filha.
Ela ousa travessuras,
mesmo quando dorme.
Quero o som indecente que penetra pela janela,
revelando o namoro indiscreto dos vizinhos.
Amo bichos noturnos e seus barulhinhos.
Por isso, me espanto quando ao entardecer,
Ouço o vazio da madrugada.
Porque mesmo insone me acostumei a companhia,
Sei que acrescida de cara imaginação.
Sinto temores quando o silêncio avança,
Negando o coro das minhas entranhas:
Som de fluidos, de doces absurdos, de tantas esperas.
Ai, não! Quero vento no cabelo,
casando amarelo flor com meus cinzas.
Quero tudo que faz o doce poeta,
me chamar de menina.
Quero suspiros, deleites e algodão doce.
Borboletinhas, flores, pés descalços...
Tudo que me faz intensa, leve e viva.
Ai, quero poder me lambuzar do remédio que encontrei displicente.
A poesia me salva desse excesso infértil de mim.

sábado, 14 de setembro de 2013

Pragmáticos

Pragmáticos
Confortável no ninho
somos passarinhos de asas machucadas,
prostrados e sozinhos.
Triste seguimos cada um na sua,
entre nossos discos, vinhos e rabiscos.
Sem esperas, sem promessas, sem quimeras.
Absurdamente desconfiados
da lua, do cio, do que queima.
Medo é essa palavra muro,
sem viés, sem desvios, sem janela.
Parados, feito poça d"água,
sem libélula por perto.
Corpo adequado, aprumado, no eixo, sem suor.
Queria fazer um poema cheio de vaga lumes e borboletas
para acordá-lo.
Queria receber um abraço laço,
de perder o fôlego e ganhar presente e futuro.
Mas essa manhã vazia só pode ser preenchida pelo silêncio,
escudo que nos cerca.
Silêncio que não se comove com o decote do meu vestido.
Nada vai mover você desse sofá?
Vamos desprezar nossos suspiros?
É tanto medo que se esconde no meu não.
Fugimos do que pode nos fazer ver a lua e adivinhar feitiços.
Fugimos do que pode rasgar escritos,
Tombar nossos mitos,
Incendiar colchão.
Por isso esse beijo interrompido,
Essa ironia que não descansa,
essa farsa, essa excitação.
Ai, esse não. Esse não que sai doído, morto e vão.
Nos enterra num buraco sem fundo, sem compaixão.
Esse nosso sorriso amarelo, esse ar cordial, essa elegância no trato,
maltrata meu coração.
Que pena, amor.
Tudo agora tem mais pá e cal do que constelação.
letras insones
Pragmáticos
Confortável no ninho
somos passarinhos de asas machucadas,
prostrados e sozinhos.
Triste seguimos cada um na sua,
entre nossos discos, vinhos e rabiscos.
Sem esperas, sem promessas, sem quimeras.
Absurdamente desconfiados
da lua, do cio, do que queima.
Medo é essa palavra muro,
sem viés, sem desvios, sem janela.
Parados, feito poça d"água,
sem libélula por perto.
Corpo adequado, aprumado, no eixo, sem suor.
Queria fazer um poema cheio de vaga lumes e borboletas
para acordá-lo.
Queria receber um abraço laço,
de perder o fôlego e ganhar presente e futuro.
Mas essa manhã vazia só pode ser preenchida pelo silêncio,
escudo que nos cerca.
Silêncio que não se comove com o decote do meu vestido.
Nada vai mover você desse sofá?
Vamos desprezar nossos suspiros?
É tanto medo que se esconde no meu não.
Fugimos do que pode nos fazer ver a lua e adivinhar feitiços.
Fugimos do que pode rasgar escritos,
Tombar nossos mitos,
Incendiar colchão.
Por isso esse beijo interrompido,
Essa ironia que não descansa,
essa farsa, essa excitação.
Ai, esse não. Esse não que sai doído, morto e vão.
Nos enterra num buraco sem fundo, sem compaixão.
Esse nosso sorriso amarelo, esse ar cordial, essa elegância no trato,
maltrata meu coração.
Que pena, amor.
Tudo agora tem mais pá e cal do que constelação.
letras insones

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Manacá




Como uma flor que não desbota mas se transveste maravilha em cada manhã,
Anseio por seus delicados sinais formoseando meu diário.
Suas palavras raras, emprestam frescor a minha rotina.
A noite é sua lembrança perfume que impregna meus lençóis com sonhos benfazejos.
Ah! Se esse momento for só devaneio e cor, já é fértil e forte pra plantar quimeras em terreno inculto.
Proponho enfeitar com esmero nossa primavera, com roxinhos, azuis e branco.
No nosso pedaço receberemos lagartas e borboletas sem prejuízo do que ainda for verde e frágil.
Elas serão nossa companhia e inspiração.
Quando as flores cansadas se renderem tapete,
Creio que esperanças vicejantes acolherão o amanhã.
Assim eu espero.
Assim te espero.


letras insones 4/09/2013

sábado, 17 de agosto de 2013

Lembrancinhas

As folhas desbotadas,
Sobrepostas pelo tempo,
Na terra batida do meu coração,
Ao receberem um golpe de vento; 
Descomportadas querem 
Despedir-se do inverno e namorar o verão.
Essas lembranças soltas,
Rodopiam tal qual Dente de Leão.
Dançam ensandecidas,
Causando rubores na face branca da estação.
Essas memórias Sempre – vivas,
Ainda são bonitas, mesmo depois de colhidas, secas e
Arranjadas conforme o humor da manhã.
Essas memórias são Sensitivas, despertam flor,
Quando tocadas pelo que é leve e frágil.
Essas memórias são Marias Sem Vergonha,
Enfeitam meu caminho quando triste e solitário,
Pra alguns poderiam ser plantas daninhas,
Mas pra mim são doces lembrancinhas,
A colorir meu itinerário.
letras insones