Sim, eu fui à lua. Estive com São Jorge e derrotei o dragão da maldade. O dragão era colossal, com três olhos de fogo, uma boca com várias carreiras de dentes afiados, uma cauda descomunal. Mas, eu e o santo, somos muito parceiros, e a briga foi boa. Terminou com o bicho estribuchando de dor, com uma espada afiada atravessada na goela.
Não encontrei com os ingênuos coelhinhos da infância de meus pensamentos. Todos haviam fugido não sei para onde.
Experimentei arrancar as lentes de meus óculos e ver a beleza embaçada. Achei uma viagem. Coloquei novamente os óculos para ver detalhes. Eu gosto dos detalhes. Foi bom flutuar e ver a terra cada vez mais distante. Mais estrangeira. Sim, eu fui à lua.
Me enrosquei no fuso dos seus horários. Andei perdendo a hora, o tino.
Porra!! Eu estava na lua...
Andei, cambaleante, tropeçando, olhando o céu. Ainda tenho a memória no corpo destes movimentos desordenados, ainda não me livrei totalmente dos tropeços e passos aéreos. Em devaneios, passei a emcompridar meus dias. Na lua, já não dormia.
Não reparei que os outros passageiros me davam adeus. Disseram tempos depois que eles haviam gritado o meu nome. Eu não ouvi. Perdi a hora de embarcar e fiquei um bom tempo por lá, sozinha.
Não senti fome ou sede, tamanha excitação do que se passava, do que se passava em mim. Tamanha a beleza da inédita paisagem. Deslumbrei. Sim, me senti como um Deus. Deus de mim, do meu tempo, das minhas horas. Heroicamente a desbravar o inacessivel. Sim, eu fui à lua. Admirei suas crateras, seus abismos, suas ausências. Andei pé atrás de pé na beira dos precipicios, como fazia quando criança andando nos trilhos do trem. Adorei seu vazio. Eu e a imensidão do espaço. Me misturei ao infinito.
Com o tempo, senti com medo. E voltei. Mas não duvidem, eu fui à lua. Não trouxe souvenir, não tirei fotografia. Mas só eu posso ter certeza, outro dia de bobeira, eu fui à lua.
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