Rascunho
Eu não sei quantos poemas não
terminei,
Desde que te (des)encontrei.
Eu não sei.
Eu não sei que força amansou a
caneta,
Que obediente, nem roça o papel.
Eu não sei se são essas
lembranças tão vivas escorrendo pelos dedos tesos,
rompendo tudo que pode ser dito
de nós.
Eu não sei se são essas lembranças
ainda frescas,
Que ao molharem os dedos, não
podem discorrer.
Será medo de morrer?
Será medo de sepultar nosso
delírio num último suspiro.
Eu não sei.
Eu não sei onde você está. Se
tomou café ou se dorme, ou se sonha.
Não sei se você caminha olhando o
horizonte.
Eu não sei se ainda ouve fado ou
Paulinho da Viola à Marisa Monte.
Ou se prefere esticar suas pernas
brancas de escritório na academia.
Eu sempre achei que você precisasse de sol.
Eu não sei nada sobre o homem de
aplicativos.
Só sei que um dia ele perdeu o
juízo.
Será que ele ainda divaga olhando
peixinhos no aquário?
Será que ainda me declama um
poema no ouvido?
Será que ainda posso te chamar
amigo?
Será que pode perder tempo
comigo?
Só sei que perdi a inspiração por
hora.
Só sei que meu poema é bobo, é
sério, sem mistério.
Minha caneta está cansada,
desconfiada e sozinha,
Dura e inerte sobre a nossa
cama-escrivaninha.
Letras insones