terça-feira, 6 de maio de 2014

Rascunho

Rascunho

Eu não sei quantos poemas não terminei,
Desde que te (des)encontrei.
Eu não sei.
Eu não sei que força amansou a caneta,
Que obediente, nem roça o papel.
Eu não sei se são essas lembranças tão vivas escorrendo pelos dedos tesos,
rompendo tudo que pode ser dito de nós.
Eu não sei se são essas lembranças ainda frescas,
Que ao molharem os dedos, não podem discorrer.
Será medo de morrer?
Será medo de sepultar nosso delírio num último suspiro.
Eu não sei.
Eu não sei onde você está. Se tomou café ou se dorme, ou se sonha.
Não sei se você caminha olhando o horizonte.
Eu não sei se ainda ouve fado ou Paulinho da Viola à Marisa Monte.
Ou se prefere esticar suas pernas brancas de escritório na academia.
Eu sempre achei que você precisasse de sol.
Eu não sei nada sobre o homem de aplicativos.
Só sei que um dia ele perdeu o juízo.
Será que ele ainda divaga olhando peixinhos no aquário?
Será que ainda me declama um poema no ouvido?
Será que ainda posso te chamar amigo?
Será que pode perder  tempo comigo?
Só sei que perdi a inspiração por hora.
Só sei que meu poema é bobo, é sério, sem mistério.
Minha caneta está cansada, desconfiada e sozinha,
Dura e inerte sobre a nossa cama-escrivaninha.

Letras insones

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