domingo, 21 de junho de 2009

Estado interessante

Estou em paz com meu ócio, o meu corpo exige silêncio.

A fome não ameaça minha vaidade: como a vida sem medidas.

Tudo pode esperar, menos o que o corpo exige. Ele é imperativo.

Hora de dormir, durmo. Hora de comer, como. Hora de fazer xixi, não me demoro.


Ai de mim, se não obedece-lo.

Estou mais velha e não envelheci. Estou mais menina, e tenho meus segredos.

Eles falam de tudo que preciso silenciar para não pintar de cinza, esse momento azul.

Só obedeço as imposições do amor que habita em mim. O amor é meu carrosel.

Vejo a vida mais comprida, vivo sem pressa uma estranha paz.


Sou impressa por abraços, carimbada por cafunés, marcada por encontros graça.

Estou gerando um filho e isso me faz um pouco santa.

Estou gerando um filho e isso me faz um pouco bruxa.

Estou gerando um filho e isso me faz um pouco mansa.

Estou gerando um filho e isso me faz um pouco bicho.

Estou tomada de coragem. Investida de beleza. Seduzida por delicadezas.


A solidão não existe.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

O tempo
é asa para o meu ofício:
delirar.

O tempo
é âncora para minha arte:
amar.

O tempo é desespero
para minha mania:
eternizar.

O tempo é
consolo para minha manha:
ameninar.

O tempo é
tempestade para minha natureza:
exagerar.

O tempo é bonança para a santa que mora em mim:
perdoar.

O tempo é
um velho cansado,
empurrado
por uma criança.

O tempo é uma moça bonita,
sorrindo na janela do trem.
A moça vai embora, e o perfume se espalha.


O tempo é o velho do saco,
caçando esperanças crianças
nas ruas cinzas.

O tempo é uma lagarta,
ensaiando belezas suspeitas.

O tempo é um menino levado,
zombando dentro de mim,
fazendo caretas para minha dureza.