sábado, 27 de agosto de 2011

Ipês roxos e amarelos

disputam a minha retina,

tonta de beleza,

escorre poesia.

Na mata da minha infância mora o espanto;

bambus conversam com o meu silêncio,

malacachetas incendeiam meus riachos,

carrapichos ousam ser mais do que espinhos; enfeites.

Nessa trilha habitam a beleza desesperada dos cogumelos,

a luz divina dos vitrais de sereno, teia e sol.

Neste instante borboletas azuis pousam no meu coração,

ele voa.

Sapos infames espantam meu mau humor; sorrisos.

O cheiro de chão me abastece de bom sentimento; suspiros.

Caracóis são anzóis que me prendem à terra amorosamente.

Coisas estranhas invadem meu sossego;

bicho de pau, grilo, esperança e medo.

Margaridas sem vergonha,

seduzem meus cabelos, indecentemente.

Encarno libélulas lambendo o sol no espelho d'água.

Com as Contas de Nossa Senhora, brinco de paraíso.

Na mata da minha infância,

sou um pouco bicho, criança e planta.

Agosto

Vivo do torto dos meus pensamentos

justo daquilo que é coração,

Aquilo que escapa do relatório,

da planilha, da encadernação.

São inclassificáveis as coisas que têm força

pra mover o amanhã.

Não tem nome o que me faz aplaudir o pôr do sol do Gragoatá,

e namorar os trilhos de São Domingos.

Sigo entusiasmada por estas ruas, adivinhando fugas.

Dentre elas a que mais me agrada:

uma tarde brincando no Jambeiro.

Neste particular, o que urge é água de coco pra minha filha.

Compro na Boa Viagem.

Ficamos, eu mais ela, encantadas em nossa ilha.

Risos, formigas, sorvetes, castelos de areia, baldes de alegria.

Formamos uma dupla incansável,

repetindo descobertas inéditas.

Dormideiras, borboletas, pipas, pombos doentes, cães vadios.

bebês, babás, cabelos brancos, balanços, passarinhos.

Nessa imensa tarde que nunca tarda

mais um instante que nos ata, lentidão.

Viivo do que não se esquadrinha,

do que não pode ser calculado,

Vivo de movimentos incontroláveis,

para os burocratas; desagradáveis

Vivo do que as crianças me ensinaram;

ter apreço por esticar o tempo

a favor da poesia.

letras insones - Agosto de 2011