sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Você pousou seus passarinhos na minha janela.

Voamos raso, voamos fundo, voamos muito.





A casa do meu amigo

Na casa do meu amigo,tenho um abrigo.

Encontro minha terra perdida, meu quase paraíso.

Lá tudo e nada se parece comigo.

Tem um sol no quintal que esquenta o coração.

E uma sombra na varanda para espantar o calorão.

Tem folhas que ele não varre, esperando o verão.

Caídas, tecem os tapetes da estação.

Na casa do meu amigo o cachorro é desobediente.

E o vento inconsequente espalha amoras doces pelo chão.

A plantação cresce desarvorada, em liberdade indecente.

As cores das paredes, calmamente desbotadas,

adornam velhas canções comigo guardadas.

O violão encostado na parede pede serenata.

Mas ele toca uma moda de viola improvisada,

Doce e bravamente descompassada

Na casa do meu amigo tem mosquiteiro,

pra cuidar de celebrar as coisas simples.

Canequinhas de porcelana aguardando o seu café,

que esquenta o coração de qualquer mulher.

Na casa do meu amigo o quintal é um bosque

habitado por lembranças e vozes de crianças,

que teimam em não crescer.

Lá não tenho medo do escuro dos fantasmas,

tenho velas acesas por todos os lados.

A fala mansa do meu amigo é meu cobertor,

seu sorriso gaiato protetor.


Se dizem que isso é fraqueza,

se esconder da amargura e da tristeza,

na sombra fresca do chápeu do meu amigo,

Não sei, mas faço isso com gosto.



Ele sabe meus segredos e desconfia de minha sorte,

Na sua companhia não sinto sede de vida, ou temo a morte.

Esse amor de amigo é um pote de mel para eu devorar.


Sozinha, inocente e devagar.

sábado, 8 de agosto de 2009

Helena

Estou tontinha de paixão
Ela chega e manda no meu coração
São gestos de puro sol,
Alegria que não cessa.
Não canso de engatinhar pelo chão.
Desfilar minha criança pelo salão.
Sem falar língua comum,
Conversamos com precisão.
Encontro em seu sorriso: remanso.
Em seu olhar descanso.
Em suas traquinagens: inspiração.
Deslizo meu juízo pelo colchão.
Faço dele trampolim:
E salto para onde mora o amor puro.
Estou totalmente entregue a seus apelos,
Faço caretas de satisfação,
Bolinhas de cuspe por diversão,
Com balbucios e gritinhos: canções.
Estou docemente encantada:
A menina quase anjo, quase fada
Despertou a criança
Que se escondia sem esperança,
No meu silêncio.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

NÃO SE APROXIME

Não se aproxime
se não ousar apressar primaveras
Não se aproxime
se seu silêncio não for comunhão
Não se aproxime
se esconder covardias sob o manto da ausência
Não se aproxime
se não fizer azul meu destino
Não se aproxime
se rimar consolo com indecisão
Gosto do que arde
Gosto do que incendeia
Tenho apreço por voôs duplos
E desprezo muros
Prefiro portas,
mesmo as tortas.

domingo, 2 de agosto de 2009

Arrumando a casa

Estou arrumando a casa,
um trabalho danado dá isso.
Encontro lugares secretos, quase precipicios.
Descubro pontes que não sei para onde saltam.
Estou de cara para o meu armário de argumentos.
Todos eles pedem paciência.
Sobra despensa para o meu orgulho.
Falta baú para minhas esperanças.
Elas escorrem, sem contenção.
Estou arrumando a casa,
um trabalho danado dá isso.
Devo me arriscar a solidão.
Minha decoração é lembrança.
Minha penteadeira, infância.
Minha cozinha, o tempo.
Minha cama, espera sem desespero.
Minha janela, aguarda passarinhos.
Minha porta, agora alerta.
Estou arrumando a casa,
um trabalho danado dá isso.
Nas paredes, quem me dá alegria.
Na gaveta, quem me tirou a paz.
Na geladeira, o que não devo dizer.
Preguiça de jogar fora o que não presta.
E o que não presta? Reciclo generosa.
No banheiro, chuveiro de choro.
No chuveiro, canção morna ambicionando o verão.
No espelho, uma mulher de lenços e vassoura na mão.
Estou arrumando a casa,
um trabalho danado dá isso.