Encontro minha terra perdida, meu quase paraíso.
Lá tudo e nada se parece comigo.
Tem um sol no quintal que esquenta o coração.
E uma sombra na varanda para espantar o calorão.
Tem folhas que ele não varre, esperando o verão.
Caídas, tecem os tapetes da estação.
Na casa do meu amigo o cachorro é desobediente.
E o vento inconsequente espalha amoras doces pelo chão.
A plantação cresce desarvorada, em liberdade indecente.
As cores das paredes, calmamente desbotadas,
adornam velhas canções comigo guardadas.
O violão encostado na parede pede serenata.
Mas ele toca uma moda de viola improvisada,
Doce e bravamente descompassada
Na casa do meu amigo tem mosquiteiro,
Canequinhas de porcelana aguardando o seu café,
que esquenta o coração de qualquer mulher.
Na casa do meu amigo o quintal é um bosque
habitado por lembranças e vozes de crianças,
que teimam em não crescer.
Lá não tenho medo do escuro dos fantasmas,
tenho velas acesas por todos os lados.
A fala mansa do meu amigo é meu cobertor,
seu sorriso gaiato protetor.
Se dizem que isso é fraqueza,
se esconder da amargura e da tristeza,
na sombra fresca do chápeu do meu amigo,
Não sei, mas faço isso com gosto.
Ele sabe meus segredos e desconfia de minha sorte,
Na sua companhia não sinto sede de vida, ou temo a morte.
Esse amor de amigo é um pote de mel para eu devorar.
Sozinha, inocente e devagar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário