domingo, 2 de agosto de 2009

Arrumando a casa

Estou arrumando a casa,
um trabalho danado dá isso.
Encontro lugares secretos, quase precipicios.
Descubro pontes que não sei para onde saltam.
Estou de cara para o meu armário de argumentos.
Todos eles pedem paciência.
Sobra despensa para o meu orgulho.
Falta baú para minhas esperanças.
Elas escorrem, sem contenção.
Estou arrumando a casa,
um trabalho danado dá isso.
Devo me arriscar a solidão.
Minha decoração é lembrança.
Minha penteadeira, infância.
Minha cozinha, o tempo.
Minha cama, espera sem desespero.
Minha janela, aguarda passarinhos.
Minha porta, agora alerta.
Estou arrumando a casa,
um trabalho danado dá isso.
Nas paredes, quem me dá alegria.
Na gaveta, quem me tirou a paz.
Na geladeira, o que não devo dizer.
Preguiça de jogar fora o que não presta.
E o que não presta? Reciclo generosa.
No banheiro, chuveiro de choro.
No chuveiro, canção morna ambicionando o verão.
No espelho, uma mulher de lenços e vassoura na mão.
Estou arrumando a casa,
um trabalho danado dá isso.

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