Tenho a alma barulhenta,
Feito festa de passarinho quando amanhece o dia.
Muitas asas pra poucos voos.
Mas que teimosas ensaiam partidas.
Ainda me espanta o que é morno.
Ainda me cansa o que não for simples.
Tenho medo de querer dormir quando o sol grita.
Não quero o sonho morto pelo anti depressivo.
Quero cores na retina, pulsações e tonturas.
Quero ainda me impressionar,
Ter a pele carimbada de arrepios e invasões.
Quero sono interrompido,
pelos risos da minha filha.
Ela ousa travessuras,
mesmo quando dorme.
Quero o som indecente que penetra pela janela,
revelando o namoro indiscreto dos vizinhos.
Amo bichos noturnos e seus barulhinhos.
Por isso, me espanto quando ao entardecer,
Ouço o vazio da madrugada.
Porque mesmo insone me acostumei a companhia,
Sei que acrescida de cara imaginação.
Sinto temores quando o silêncio avança,
Negando o coro das minhas entranhas:
Som de fluidos, de doces absurdos, de tantas esperas.
Ai, não! Quero vento no cabelo,
casando amarelo flor com meus cinzas.
Quero tudo que faz o doce poeta,
me chamar de menina.
Quero suspiros, deleites e algodão doce.
Borboletinhas, flores, pés descalços...
Tudo que me faz intensa, leve e viva.
Ai, quero poder me lambuzar do remédio que encontrei displicente.
A poesia me salva desse excesso infértil de mim.
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