quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sou a aresta que resta
pra você aparar,
Voce que não gosta de festa
e prefere a retidão.
Aconselho: me apare com precisão,
para aquilo que sobrar,
não derreter seu coração.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

No amor,
Não busco acerto,
No amor quero
concerto.
No outro,
Não procuro
espelho,
Com o outro
arrisco mosaicos.

sábado, 27 de agosto de 2011

Ipês roxos e amarelos

disputam a minha retina,

tonta de beleza,

escorre poesia.

Na mata da minha infância mora o espanto;

bambus conversam com o meu silêncio,

malacachetas incendeiam meus riachos,

carrapichos ousam ser mais do que espinhos; enfeites.

Nessa trilha habitam a beleza desesperada dos cogumelos,

a luz divina dos vitrais de sereno, teia e sol.

Neste instante borboletas azuis pousam no meu coração,

ele voa.

Sapos infames espantam meu mau humor; sorrisos.

O cheiro de chão me abastece de bom sentimento; suspiros.

Caracóis são anzóis que me prendem à terra amorosamente.

Coisas estranhas invadem meu sossego;

bicho de pau, grilo, esperança e medo.

Margaridas sem vergonha,

seduzem meus cabelos, indecentemente.

Encarno libélulas lambendo o sol no espelho d'água.

Com as Contas de Nossa Senhora, brinco de paraíso.

Na mata da minha infância,

sou um pouco bicho, criança e planta.

Agosto

Vivo do torto dos meus pensamentos

justo daquilo que é coração,

Aquilo que escapa do relatório,

da planilha, da encadernação.

São inclassificáveis as coisas que têm força

pra mover o amanhã.

Não tem nome o que me faz aplaudir o pôr do sol do Gragoatá,

e namorar os trilhos de São Domingos.

Sigo entusiasmada por estas ruas, adivinhando fugas.

Dentre elas a que mais me agrada:

uma tarde brincando no Jambeiro.

Neste particular, o que urge é água de coco pra minha filha.

Compro na Boa Viagem.

Ficamos, eu mais ela, encantadas em nossa ilha.

Risos, formigas, sorvetes, castelos de areia, baldes de alegria.

Formamos uma dupla incansável,

repetindo descobertas inéditas.

Dormideiras, borboletas, pipas, pombos doentes, cães vadios.

bebês, babás, cabelos brancos, balanços, passarinhos.

Nessa imensa tarde que nunca tarda

mais um instante que nos ata, lentidão.

Viivo do que não se esquadrinha,

do que não pode ser calculado,

Vivo de movimentos incontroláveis,

para os burocratas; desagradáveis

Vivo do que as crianças me ensinaram;

ter apreço por esticar o tempo

a favor da poesia.

letras insones - Agosto de 2011

sábado, 2 de abril de 2011

muxoxo

Muxoxos invadem minha poesia.
São vírgulas, ambicionando exclamação.
Quase lágrima, quase dor, quase respiração.
Espaço entre o desaforo e a covardia.
Distração da esperança no meio do meu dia.
Desatenção do sonho que não se recolhia.
É pausa solitária esperando inspiração.
Não é grito é quase gesto.
É instante quase infeliz.
É intervalo para o desdém.
É quase tédio,
quase um descontentamento,
por um triz, quase soco.




terça-feira, 1 de março de 2011

tomate cereja

Recolhia nos campos de minha infância
um punhado de vermelhas emoções
eram tesouros brotando alegria
na simplicidade verde de minhas manhãs

Encontrar o cereja no terreno
de baldio sentimento
era atrasar o relógio
e permanecer criança

De saias, fazia bolsa
cortando pernas com urtigas invejosas
para catar demoradamente
o que eram para mim menina; jóias.

Hoje, como pronto com azeite fino
o que antes era caro
hoje, só a lembrança
faz do insignificante tomatinho
fruto raro.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Por mais delicada
que seja a existência neste instante
vez por outra me sinto aprisionada.
Acho que são essas lembranças farpas,
ferindo meus passarinhos.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Alguém me disse:
é de um amor calmo que você precisa.
Eu aceitei o conselho.
Mas olhando no meu espelho,
revirando os meu baús.
Duvidei.
Esse amor sem arrepios,
com regras,
sem cio,
me parece
comer fruta madura
de garfo e guardanapo.
Espero quem me possa
provar.
Espero quem me possa provar o contrário.