Hoje encontrei com uma criatura sinistra.
Eu estava sentada no sofá de minhas acomodações,
Quando vi do meu lado, uma criatura de dentes amarelos.
Ela sorria debochada.
Seus olhos eram dois buracos sem brilho.
Seus braços compridos gelados encostavam nos meus.
Senti um arrepio de horror.
Ela estava aqui, sem receber convite.
Não tive força para expulsá-la.
Não tinha asas para voar.
Nem meus pensamentos mais azuis escapavam dela.
Meus pés pareciam fincados no piso.
Ela me olhava como se desejasse minha alma inteira.
Ela queria morar no meu coração.
A criatura gargalhava descompassada, mangava de minha meninice.
Fazia com que tudo que rima com sonho parecesse tolice.
Passava a mão nos meus cabelos, querendo possuir o que restava em mim de delicadeza.
De vez enquando me atacava com seu bafo de geladeira.
Caminhei com dificuldades pela casa, ela me seguia.
Ela me fez companhia por toda a noite.
Já não sentia medo quando adormeci.
Era cansaço de tanto fitá-la.
Dor no corpo por sustentar como companhia uma dama que não se chama solidão,
que não se chama morte, que não se chama medo.
Essa dama que me impediu de abrir as janelas, lavar a louça, trocar os lençois se chama desamor.
De vez enquando ela aparece vestida de silêncio e tédio.
2 comentários:
Tenho comigo a irmã, que nem sei se tem dentes amarelos ou se veste de andrajos.
Talvez seja fria, não percebi.
Mas sei que capturou minha alma e me chicoteia as entranhas, de onde escorrem sonhos perdidos e brota o silêncio da desesperança.
Beijos, com carinho.
Tia,
A beleza de suas palavras é desconcertante...
Espero que a vida reinagure seus dias com novos sonhos e que as chicotadas sejam aliviadas com o balsamo do amor. Os novos sonhos não substituiram os perdidos, mas podem fazer brotar uma esperança menina no seu peito de mulher e mãe.
Te amo.
Fernanda
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