sábado, 30 de maio de 2009

Me recuso
a sorrir amarelo,
diante dos céus:
olhos verdes.

Inconho

Duas pessoas celebram num instante
o que é ser intimo,
mas precisam de mais.
Precisam mais que um instante para continuar a festa.
Nesse instante em que querem mais,
se separam por medo de se perderem
do que eram antes.
Sofrem porque precisam demais do outro.
Sonhei coisas dificieis de perpetuar
Sonhei ser imprescindível.
Hoje estou cativa do que chamam ilusão.
Mas vou ouvir atenta os murmurios das minhas águas,
Sentir a quentura fumegante das minhas carnes.
Quero um momento de descanso do que dói,
Quero ouvir o silêncio das estrelas
Me embriagar de beleza natural.
Quero deixar o tempo pairar borboleta sobre o meu ombro.
Quero me espreguiçar lagartixa no meu quintal de boas memórias.
Quero olhar o rio e não advinhar a outra margem.
Quero me desprender do que me enfraquece.
Quero saber ir embora quando não cabe ficar.
Quero saber me despedir sem medo do que virá.
Sou destinada a acreditar no que faz bater o coração,
Gosto de tremer sob efeito de sorrisos, beijos e olhares penetrantes.
Sei o valor de cada virada de esquina.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Essa madrugada vou viver sozinha,
Cheia do que em mim transborda,
Vou perfumar meu travesseiro,
com o afeto que não consigo
expulsar do coração.
Vou me embriagar dessa solidão,
Sentirei cada dor, cada pena,
cada mágoa e desconsolo.
Vou visitar lugares abandonados,
jardins secretos, paixões esquecidas.
Vou ler velhos poemas amarelados,
ver fotos amassadas pelo tempo.
Vou colher vento,
Espalhando escritos pela cama.
Receber tempestades,
borrando o rosto e a maquiagem.
Quando o sol invadir meu quarto,
me verei heróina no espelho,
cabelos em desalinho,
boca seca esperando alívio.
No olhar embraseado,
um restinho de guerreira.
um tanto de sereira,
uma porção mãe.
Essa coisa chamada esperança,
Vai impedir que essa figura cansada,
uma mulher sem menina por perto,
se desfaça em melancolia.

domingo, 24 de maio de 2009




Quero comer o que não é óbvio

e ser alimento para quem é raro.
Ai,quero mastigar a vida devagarzinho,

nada de fast, nada de food.

Preciso provar o improvável.

para incendiar meus manuais.

Quero o sabor das coisas sem buscar comparação

com o que antes senti,

Me embriagar de beleza e cor exagerada.

Quero exagerar o que em mim é vivo.

Quero ser criança para acreditar

e velho para acreditar de novo.

Quero me submeter ao inesperado.

e ficar amiga de todos os santos.

Quero ervas perfumando meu destino.
Quero me acrescentar com asas que não estejam quebradas.

Sinto na boca um gosto de céu,
Estrelinhas, lua e sol dançam nessa caverninha.
Parece que vou inventar um novo poema
Ele rima delicadeza com precisão.
Sinto uma esperança criança nascer
do inevitável passar dos dias.
Ela me comove.
Ela grita desesperada querendo calor.
Ela nasce de uma vontade de ver o horizonte.
Ai, como sou afeita as coisas chãs!
Ambiciono a beleza das pedrinhas, borboletas, brisas e dormideiras.
Todas elas fazem o meu relicário.
Mas hoje, preciso me embriagar de paisagens que me espantem
Preciso sentir na pele o arrepio de quem olha o rio e não vê
A outra margem.
Preciso tingir de absurdo o que se chama cansaço.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O encanto

virou promessa

a promessa virou

herança

a herança

virou

destino

e o destino: esperança.

A esperança também cansa.

virou rotina.

A rotina

virou tédio.

E o tédio virou vingança.

A vingança virou fel.

E o fel envenenou o amor.

O amor virou obsessão.

A obsessão virou o motor.

O motor parou.

Restou saudade.

A saudade virou lembrança.

A lembrança

convidou o triste presente

para dançar.

Dançaram o dia todo

até cansar.

Cansaram do que era são,

mas adoeceram de orgulho vão.

O orgulho virou um muro

aprisionando o coração.

O coração anda perdido

buscando consolação.

Consolação, ele não encontra

nessa briga sem razão.

A razão parece um espelho,

onde existe desacordo.

O desacordo é um desafio,

um repente que não cessa.

Sem cessar a solidão enrijece,

a alma.

A alma repousa na certeza,

escolhe o destino como explicação.

Explicação inventada para adocicar a

desilusão.

A desilusão é uma fonte sem água,

uma dor que se cura com raro remédio.

E o remedio é uma nova paixão,

que perdoe o passado e celebre o por vir.

domingo, 17 de maio de 2009

Essa minha desmedida vontade de ser mais,
Me faz cometer desatinos instransferiveis.
Não culpo ninguém, por perder minha viagem,
Não resta dúvida,
é difícil encontrar quem
goste de beirar precipicios.
Receio me acostumar com a solidão.
Então faço cena, machuco quem não quero.
Rodo a saia, espalhando palavras desencantadas do que é doce e terno.
Dentro do meu peito oco sacodem tristes lembranças.
Essas dores poderiam ter como nome exagero,
Mas todas tem sobrenome: indiferença.
Então, tomo por companhia sonhos pueris.
Me encanto com qualquer palavra que escorra mel.
Volto a ser uma bobinha de saia de pregas
Uma colegial com cadernos nas mãos.
Colorindo de rosa o que exige cinza.
Assim, tem dias que sou uma torrente de lágrimas desabrigadas
ambicionando um lencinho branco.
Tem dias que sou uma tempestades de risos esperando jogral.
Tem dias que o corpo grita o outro e não permite auto contentamento.
Permanece em mim um obsessão por ser amada,
Por ser destinada a um par que encontrarei por aí.
Na verdade,
acho isso tudo uma bobagem,
Um espanto, uma tolice.
Mas no fim da tarde,
Quando meto a chave na porta e tranco o dia lá fora,
Penso encontrar alguém para comungar meu silêncio,
e se embriagar com o nosso perfume.

sábado, 9 de maio de 2009

Quando ela foi mãe, não havia ultrassonagrafia para revelar o que a natureza preparava.
Imagino a emoção daquela mãe olhando aquele corpo miudinho, tão frágil e tão vitorioso.
Imagino o quanto ela ficou contente, imagino o quanto ficou temerosa. Imagino os seus sentimentos contraditórios, o medo de não saber ser mãe e a certeza de que encontraria qualquer resposta no livro da vida, na experiência de cuidar dessa criaturinha. Imagino que neste dia, ela começava a se perder no meio de tantas fraldas(não eram descartáveis), de tantas mamadas, de tantas cólicas e noites de insônia. Imagino que ela também se perdia no meio das primeiras risadinhas, no meio das palavrinhas, no andar desconjuntado daquela menina. Imagino como foi dificil deixar essa criancinha com vinte dias com outro alguém, para trabalhar. Imagino como foi cuidar da febre, dar dor de garganta, das alergias.Imagino como foi duro ver a garotinha receber pontos na língua, injeção todo mês, urinar sangue no piniquinho. Imagino como foi gostoso ver a menina de uniforme, lendo, escrevendo. Imagino como foi divertido ver desenhos animados, fazer pipocas com chocolate, costurar uma boneca maior que a garota. Imagino como foi bonito ver a menina ficando mocinha, sua primeira menstruação, seus peitinhos, seus pêlos.Imagino como foi inesperado saber do primeiro beijo da filha num menino nada recomendado pelos adultos de plantão. Aquela menina boazinha começava a dar trabalho pois suas escolhas não rimavam com verdades, com a tradicional razão. Imagino como foi triste ver a menina moça chorar de amor trancada no quarto, sozinha, isolada. Imagino como foi dificil desde o começo, desde quando ela descobriu que essa criança era uma menina, pensar num destino que não revelasse solidão e submissão. Imagino o quanto ela quis poupá-la. Imagino o quanto ela quis protege-la.
Ai, imagino o quanto ela quis que essa mulher, escrevesse uma história de força, de autonomia, de liberdade. Imagino o quanto ela quis um par, um companheiro bacana para essa filha que só queria ser amada. Imagino como deve ser desconsertante ver o modo como sua filha escreve poesia, fala de sexo, bebe cerveja.. Imagino como foi assombroso acompanhar cada historia mal sucedida, cada decepção, cada desilusão.Imagino como foi emocionante ver a garota insistente amando de novo, de novo, de novo, sempre afirmando a vida. Imagino hoje, como é dificil para essa mãe, não ter sua menina por perto. Imagino como é gostoso quando conversam como duas amigas sobre amores, filmes, receitas, ...
Imagino o quanto ela se preocupa e ocupa sua vida pensando nessa menina crescida. Imagino como ela se orgulha do que sua filha conquista. Imagino como ela se sente ao perceber que não pode mais impedir que sua filhinha viva as dores da vida. Imagino como deve ser bom quando ela e suas três garotas e agora uma neta, repartem suas alegrias. Só imagino, mas eu sei o quanto essa mulher me ama e me quer bem.
Eu sei que é só pensar neste amor, que tenho um cobertor quentinho me aquecendo o corpo e a alma. Eu sei que é só pensar neste amor que eu tenho uma sopinha para curar minha indigestão. Essa mulher está sempre segurando minha mão, está neste instante me colocando no colo...
Sonhei coisas dificieis de perpetuar

Sonhei ser imprescindível.

Hoje estou cativa do que chamam ilusão.

Mas vou ouvir atenta os murmurios das minhas águas,
Sentir a quentura fumegante das minhas carnes.

Quero um momento de descanso do que dói,

Quero ouvir o silêncio das estrelas
Me embriagar de beleza natural.

Quero deixar o tempo pairar borboleta sobre o meu ombro.

Quero me espreguiçar lagartixa no meu quintal de boas memórias.

Quero olhar o rio e não advinhar a outra margem.

Quero me desprender do que me enfraquece.

Quero saber ir embora quando não cabe ficar.

Quero saber me despedir sem medo do que virá.
Sou destinada a acreditar no que faz bater o coração,
Gosto de tremer sob efeito de sorrisos, beijos e olhares penetrantes.
Sei o valor de cada virada de esquina.


sábado, 2 de maio de 2009

Não quero você de qualquer jeito.
Não quero você para espantar meu tédio.
Não quero você para pagar minhas contas tontas.
Não quero você para apagar dores do passado.
Não quero você para ocupar minha rotina.
Não quero você para pendurar meus quadros.
Não quero você para ter sexo fácil.
Não quero você para para ter companhia na pose de qualquer foto.
Não quero você mais ou menos.
Quero nosso olhar febril enquanto fazemos amor.
Quero uma palavra doce no meio da amargura da minha insônia.
Quero só um pouco de ternura.
Quero andar de mãos dadas e entregues.
Quero gargalhadas de espantar vizinhos.
Quero gemidos de espantar a nós mesmos.
Quero pernas trançadas dificies de não se tornarem nós.
Quero um beijo acompanhado de trilha sonora bacana.
Quero uma dança, só quero um par.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Sei sangrar sorrindo,
aprendi com algumas santas.
Sei desconfiar do que arde,
aprendi com algumas putas.
Sei ser rosa num dia cinza,
aprendi com algumas meninas.
Sei bater asas e espalhar alivio,
aprendi com algumas fadas.
Sei ser só silêncio,
aprendi com alguns homens.
Sei rir do que em mim dói,
aprendi com todos os palhaços.
Sei incomodar o que é sério,
aprendi com quase todos os bebados.
Só não sei dançar conforme a música,
como a bailarina da caixinha.