sábado, 9 de maio de 2009

Quando ela foi mãe, não havia ultrassonagrafia para revelar o que a natureza preparava.
Imagino a emoção daquela mãe olhando aquele corpo miudinho, tão frágil e tão vitorioso.
Imagino o quanto ela ficou contente, imagino o quanto ficou temerosa. Imagino os seus sentimentos contraditórios, o medo de não saber ser mãe e a certeza de que encontraria qualquer resposta no livro da vida, na experiência de cuidar dessa criaturinha. Imagino que neste dia, ela começava a se perder no meio de tantas fraldas(não eram descartáveis), de tantas mamadas, de tantas cólicas e noites de insônia. Imagino que ela também se perdia no meio das primeiras risadinhas, no meio das palavrinhas, no andar desconjuntado daquela menina. Imagino como foi dificil deixar essa criancinha com vinte dias com outro alguém, para trabalhar. Imagino como foi cuidar da febre, dar dor de garganta, das alergias.Imagino como foi duro ver a garotinha receber pontos na língua, injeção todo mês, urinar sangue no piniquinho. Imagino como foi gostoso ver a menina de uniforme, lendo, escrevendo. Imagino como foi divertido ver desenhos animados, fazer pipocas com chocolate, costurar uma boneca maior que a garota. Imagino como foi bonito ver a menina ficando mocinha, sua primeira menstruação, seus peitinhos, seus pêlos.Imagino como foi inesperado saber do primeiro beijo da filha num menino nada recomendado pelos adultos de plantão. Aquela menina boazinha começava a dar trabalho pois suas escolhas não rimavam com verdades, com a tradicional razão. Imagino como foi triste ver a menina moça chorar de amor trancada no quarto, sozinha, isolada. Imagino como foi dificil desde o começo, desde quando ela descobriu que essa criança era uma menina, pensar num destino que não revelasse solidão e submissão. Imagino o quanto ela quis poupá-la. Imagino o quanto ela quis protege-la.
Ai, imagino o quanto ela quis que essa mulher, escrevesse uma história de força, de autonomia, de liberdade. Imagino o quanto ela quis um par, um companheiro bacana para essa filha que só queria ser amada. Imagino como deve ser desconsertante ver o modo como sua filha escreve poesia, fala de sexo, bebe cerveja.. Imagino como foi assombroso acompanhar cada historia mal sucedida, cada decepção, cada desilusão.Imagino como foi emocionante ver a garota insistente amando de novo, de novo, de novo, sempre afirmando a vida. Imagino hoje, como é dificil para essa mãe, não ter sua menina por perto. Imagino como é gostoso quando conversam como duas amigas sobre amores, filmes, receitas, ...
Imagino o quanto ela se preocupa e ocupa sua vida pensando nessa menina crescida. Imagino como ela se orgulha do que sua filha conquista. Imagino como ela se sente ao perceber que não pode mais impedir que sua filhinha viva as dores da vida. Imagino como deve ser bom quando ela e suas três garotas e agora uma neta, repartem suas alegrias. Só imagino, mas eu sei o quanto essa mulher me ama e me quer bem.
Eu sei que é só pensar neste amor, que tenho um cobertor quentinho me aquecendo o corpo e a alma. Eu sei que é só pensar neste amor que eu tenho uma sopinha para curar minha indigestão. Essa mulher está sempre segurando minha mão, está neste instante me colocando no colo...

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